quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Casos de ambiguidade

A condição de nos colocarmos como seres eminentemente sociais resulta do fato de a todo momento estarmos inseridos em situações de comunicação. Assim, cabe afirmar que essa interação somente se tornará efetivada se houver clareza e objetividade por parte de quem profere algo, pois caso contrário, seja por um motivo ou outro, haverá uma quebra de entendimento, fazendo com que as intenções definidas pela enunciação não sejam concretizadas. Assim afirmando, tais pressupostos se aplicam à modalidade oral, mas se aplicam ainda com mais efetividade em se tratando da modalidade escrita de linguagem, haja vista que esta carateriza aquelas situações consideradas formais.
Dessa forma, caro(a) usuário(a), pretendemos levar até você algumas considerações inerentes a um fator que, quando materializado, faz com que a mensagem não se apresente de forma assim tão clara, objetiva como deveria, haja vista que dá margens para o interlocutor se sentir questionado acerca das reais intenções a que se propôs o emissor ao proferir uma determinada expressão. Tal fator se demarca pela ambiguidade, aquela característica (concebida de forma negativa, obviamente) que confere ao discurso uma múltipla interpretação, materializada por alguns casos considerados pontuais. Por essa razão, vejamos alguns deles:

O vizinho espantado resolveu ver o que estava acontecendo àquela hora da noite.
Tal colocação nos dá margens para nos sentirmos questionados se o vizinho estar “espantado” é realmente uma característica do vizinho sempre, ou se ele se mostrou espantado num dado momento apenas. Dessa forma, retificando o enunciado, temos:
O vizinho, espantado, resolveu ver o que estava acontecendo àquela hora da noite.

O turista disse ao guia que era pernambucano.
Daí nos perguntamos acerca de quem era pernambucano: o guia ou o turista? De modo a retificar o enunciado, obtemos:
O turista disse que era pernambucano ao guia.

O supervisor de turma pegou o aluno correndo no pátio da escola.
Quem realmente estava correndo? O supervisor de turma ou o aluno? Dessa forma, de modo a retirar a dupla interpretação, temos:
O supervisor de turma pegou o aluno que corria no pátio da escola.

Beatriz e Paulo desejam noivar-se.
A má interpretação reside no fato de não conseguirmos identificar muito bem se Paulo deseja noivar-se com Beatriz ou se ambos desejam ficar noivos de pessoas distintas.  De modo a desfazermos esse mal entendido, obtemos:
Beatriz deseja noivar-se com Pedro,  e Paulo com Cristina.

Durante a viagem, saboreamos alimentos e bebidas cuja qualidade é inigualável.
Infere-se perguntar acerca de qual qualidade se apresenta  inigualável: das bebidas ou dos alimentos? Tornemos o discurso mais claro, portanto:
Durante a viagem, saboreamos  alimentos e bebidas, os quais possuem qualidade inigualável.


Produzir um texto não é tarefa fácil, pois existem inúmeras coisas que podem comprometer o mesmo de forma a dificultar o entendimento daqueles que estão lendo. Existem alguns erros que são rotineiramente cometidos em produção de textos como:

Pleonasmo: Também conhecido como redundância, consiste na utilização desnecessária ou repetida de idéias ou apenas palavras que comprometem o entendimento do texto. Pode ser empregado como vício de linguagem ou como figura de linguagem, porém ambos interferem na clareza do texto.

Ex. Vamos subir pra cima.
Estou cursando o curso de Engenharia.

Ambigüidade: Também conhecida como anfibologia, consiste no emprego de palavras que possuem duplicidade de sentido. É considerada vício de linguagem, pois pode ser utilizada de forma inconsciente, por descuido ou ainda de forma proposital. Normalmente acontece quando não existem vírgulas na frase ou quando são utilizadas palavras indevidas.

Ex. Venceu o Brasil a Argentina.
Onde está a cadela da sua irmã?

Cacofonia: Consiste na utilização de palavras que produzem sons desagradáveis ou ainda idéias pejorativas, obscenas e engraçadas.

Ex. Vou-me já.
Eu continuo a amar ela.
Ele pagou mil reais por cada bolsa.

Apesar de existirem vários outros empregos que dificultam a interpretação de um texto, esses são os que mais ocorrem.

É importante escrever com clareza e elegância.
Casos pontuais revelam que a ambiguidade prejudica a clareza da mensagem.

Coerência textual

A definição encontrada em um dicionário para coerência é:

Coerência: [s.f.] 1. qualidade, condição ou estado de coerente; 2. ligação, nexo ou harmonia entre dois fatos ou duas idéias; relação harmônica, conexão.
                                                                             Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.

O conceito de coerência refere-se ao nexo entre idéias, acontecimentos, circunstâncias.
A coerência textual é a relação existente entre as partes do texto, é o vínculo entre as idéias expostas nele, essa é responsável pela percepção de sentido.

Para julgarmos um texto coerente ou não devemos levar em consideração o contexto, pois esse determina a plena interpretação, deve-se levar em conta a intenção comunicativa, bem como os objetivos, destinatário e regras socioculturais.

A coerência está relacionada ao conteúdo veiculado em um texto.

Textualidade

Textualidade... Ao nos depararmos com essa palavra, logo nos remetemos à escrita que, por sua vez, requer determinadas habilidades por parte do emissor. Nesse sentido e, sobretudo, partindo do pressuposto de que independentemente de qualquer que seja a finalidade discursiva a que se presta um determinado texto, esse deve estar claro, preciso e objetivo para quem o lê – isso é a verdadeira textualidade.
Mas, atenção! Um texto se constitui de ideias, de argumentos firmados por parte de quem o escreve, concorda? Sim, fato indiscutível, contudo, somente elencá-las não é o suficiente, haja vista que precisam, antes de tudo, estar bem ordenadas, articuladas. Fato esse que somente se materializa se os parágrafos se apresentarem bem construídos, ordenados. Quando assim se apresentam, logo afirmamos que se trata de um texto que possui coesão, e se ela se faz evidente, afirmamos também que ele está coerente, pois ambos os aspectos “trilham” (ou pelo menos devem trilhar) juntos o mesmo caminho.
Partindo então de tais princípios, cabe ressaltar que essa articulação, uma vez manifestada, pode se dar tanto no nível das frases quanto no nível do próprio texto, por meio dos articuladores lógicos do texto e dos próprios conectivos.
Quando no nível das frases, a articulação se dá mediante o uso de pronomes, os quais fazem referência a elementos antes proferidos; bem como das conjunções, uma vez que essas estabelecem distintas relações entre as orações, podendo ser de causalidade, temporalidade, oposição, consequência, condição, conclusãoentre outros aspectos.
Manifestando-se no nível do texto, a articulação se caracteriza pela relação que se estabelece entre as partes maiores desse, como é o caso da introdução, desenvolvimento e conclusão. Dessa forma, atuando como casos representativos desse aspecto, eis algumas expressões notadamente expressas por “dessa forma”, “por outro lado”, “por exemplo”; sequências numéricas, tais como “primeiro”, “segundo”, “primeiramente”, “em segundo plano”, entre outras;conjunções de oposição, como, por exemplo, “não obstante”, “apesar de”, ente outras.

Caro (a) usuário (a), gostaríamos de fazer um questionamento a você: a palavra “textualidade” o (a) remete a alguma ideia? Independentemente da resposta conferida a tal indagação, elucidemos acerca desse importante aspecto – indispensável a qualquer produção textual. 

Compreenda que o sentido dessa palavra se encontra intimamente relacionado às características das quais necessita qualquer enunciação, haja vista que a mensagem, para ser materializada de forma plausível, precisa, antes de tudo, estar decifrável mediante os olhos do interlocutor. Partindo de tal princípio, eis que estudaremos esses elementos, tão importantes quanto necessários, de forma que a textualidade se faça presente, sempre. Assim, analisemos cada um deles de forma particular: 

Clareza da palavras – Tal requisito se mostra como algo indispensável a qualquer discurso, haja vista que a escolha que fizer delas implicará na qualidade da mensagem que produz. Dessa forma, não busque palavras difíceis, muitas vezes por você e pelo seu interlocutor desconhecidas. Tal atitude só comprometerá aquilo que pretende conquistar.

Expressividade – Todos os aspectos aqui firmados parecem se complementar mutuamente, pois a expressividade resulta na escolha bem feita que fizer das palavras. Sempre tendo em vista os critérios de coesão e coerência, os quais incidirão de forma direta na qualidade da mensagem que construir.

Ordem direta das palavras – Procure sempre fazer uso delas, ou seja, optando pelo uso do sujeito + predicado – complemento, quando houver, pois assim você será mais bem entendido (a).

Originalidade – Seja original o quanto puder, por isso nada de optar por frases desgastadas, rebuscamentos, pedantismos, falsas erudições que você mesmo (a) desconhece. Procure revelar sua mensagem de forma clara e objetiva, de modo a fazer com que o interlocutor compreenda perfeitamente aquilo que pretende dizer. Para tanto, utilize-se de uma linguagem simples, porém adequada ao padrão formal – requisito também essencial à modalidade escrita. O uso de termos técnicos, bem como de chavões e modismos, é uma atitude inadequada a um bom redator.
Não basta somente ter ideias, elas precisam estar bem articuladas, para que assim se materialize a textualidade.
Os elementos da textualidade representam um conjunto de aspectos que, uma vez manifestados, conferem clareza ao discurso.

Características do texto

Escrever, embora não seja agradável aos olhos de todas as pessoas, mesmo porque ‘generalizar’ seria um tanto quanto descabido, representa um ato social, haja vista a condição em que nos encontramos, como sendo seres eminentemente sociais, claro. Daí, apossando-nos dessa condição, eis que uma questão tende a ser relevante: se escrevemos, assim o fazemos para um interlocutor, ou seja, para o outro, e mais: se desejamos atingi-lo(a), é porque temos uma finalidade, um propósito.
Digamos então em alto e bom som, para que esse alguém, ora se encontrando do outro lado, compreenda-nos de forma efetiva, de algumas habilidades devemos dispor no instante em que estabelecemos a comunicação. Embora isso, para muitos, pareça ser complexo demais.
Entretanto, caro(a) usuário(a), não para você, que porventura também se enquadra nesse rol, haja vista que de forma criteriosa preparamos uma seção especialíssima, sim, especialíssima, somente para você que se mostra consciente de que independentemente de qual seja a circunstância comunicativa, seu discurso deve atender a alguns pontos norteadores, entre eles:
* Consegui ser claro(a) naquilo que pretendia dizer?
* Expressei-me de forma adequada, ou seja, propus-me a uma seleção criteriosa das palavras, cujos posicionamentos realmente fizeram com que eu atingisse meus objetivos?
* Mesmo falando em expressividade, será que minha linguagem se manifestou de forma simples? Simples não no sentido de fazer uso de coloquialismos, bem como de termos indevidos, tais como gírias, mas simples porque de uma forma precisa você conseguiu se posicionar de forma clara.
* Fui realmente original? Até porque, se usei da expressividade, brechas não se abririam para que a falta de originalidade resolvesse ocupar um “pontinha” de espaço. Apenas lembrando-se de que ser original significa ser claro(a) e preciso(a) sem usar de pedantismos vocabulares, sem “usufruir” de falsas erudições, pois não há nada mais constrangedor do que  falarmos e/ou escrevermos algum termo sem que nem mesmo nós saibamos o significado, concorda?
* A escolha das palavras se deu de forma correta? Nada de chavões, nada de lugares-comuns, modismos, enfim... Conseguiu ser elegante sem ser pedante, sem ser erudito ao extremo?
Ah... Acredite! Mais elegante ainda é você conferir acerca do que aqui se encontra preparado para você, cujo intuito é fazer com que disponibilize dessa e de outras habilidades para que seu discurso, realmente, seja dotado da textualidade de que tanto ele necessita.

sábado, 27 de julho de 2013

Morfologia

A morfologia  ocupa-se de diversas classes de palavras, isoladamente, na

semantema

O termo morfologia vem da palavra morfema. Morfema, de acordo com a definição do dicionário Aurélio, é o elemento que confere o aspecto gramatical ao semantema, relacionando-o na oração e delimitando sua função e seu significado

semantema, por sua vez, é o elemento que encerra o significado de uma palavra.

 Exemplo: agrad-, no caso de agradar, agradável, agradecido, agrado, agradavelmenteÉ definido também como o “radical” da palavra, a raiz, a parte imutável da palavra. 


Logo, o termo que encerra uma palavra ou sucede o seu radical é o responsável por nos informar a respeito de gênero, número, tempo, modo, pessoa e classe gramatical. 
Partindo dessas informações, podemos concluir que Morfologia é a parte da gramática da língua que estuda os morfemas
Os morfemas são responsáveis por nos informar: 
• o gênero: masculino ou feminino de uma palavra.
Exemplo:
amigo
amiga
                                                                 
• o número: singular ou plural de uma palavra.
Exemplo:
amigo
amigos
• tempo e modo de um verbo.
Exemplo: ajudei = tempo: pretérito perfeito, modo: indicativo 
• o número e a pessoa de um verbo.
Exemplo: ajudaram= número: plural, pessoa: 3ª pessoa 
• a classe gramatical de uma palavra:
Exemplo:
auxiliar – verbo
auxílio - substantivo
auxiliadora – adjetivo
No nível de análise morfológico encontramos duas unidades formais: a palavra e o morfema e uma das questões centrais no estudo da Morfologia é decidir se a abordagem será pela perspectiva do morfema ou se a partir da palavra. A Gramática Tradicional fez opção clara pela abordagem a partir da perspectiva da palavra, tanto que a morfologia tradicional é centrada no estudo das classes de palavras. Alguns linguistas sugerem que a abordagem a partir dos morfemas é mais sensata, dadas as dificuldades encontradas para delimitar o conceito de palavra. Da nossa parte, não vamos radicalizar em favor de nenhuma perspectiva. Tentaremos abordar com equilíbrio tanto os morfemas como as palavras.
 Palavra
No nível de análise morfológico encontramos duas unidades formais: a palavra e o morfema e uma das questões centrais no estudo da Morfologia é decidir se a abordagem será pela perspectiva do morfema ou se a partir da palavra. A Gramática Tradicional fez opção clara pela abordagem a partir da perspectiva da palavra, tanto que a morfologia tradicional é centrada no estudo das classes de palavras. Alguns linguistas sugerem que a abordagem a partir dos morfemas é mais sensata, dadas as dificuldades encontradas para delimitar o conceito de palavra. Da nossa parte, não vamos radicalizar em favor de nenhuma perspectiva. Tentaremos abordar com equilíbrio tanto os morfemas como as palavras.


 A conceituação de palavra atormenta os linguistas, o que pode parecer estranho, afinal, os falantes têm uma intuição clara do que sejam palavras e conseguem identificá-las facilmente nas situações em que se exige a segmentação do discurso palavra a palavra, como ocorre, por exemplo, no discurso escrito. Mas quando nos debruçamos sobre o estudo da palavra, encontramos sérias dificuldades para estabelecer uma definição universal, válida para todas as ocorrências.

A posição que mantemos é a de que essa definição universal de palavra não é possível. Os falantes conseguem segmentar facilmente o discurso em palavras porque seguem regras que fazem parte da sua competência do idioma. Estas regras tratam as exceções e questões limítrofes da estrutura da língua através de convenções, o que esconde as dificuldades no trato conceitual da palavra. De qualquer forma, a seguir tentaremos uma aproximação do conceito.

Uma constatação importante quando se fala em palavras é que a consciência das palavras é irrelevante em muitos contextos de uso da língua. No discurso oral, por exemplo, não é necessário ter consciência das palavras na maioria dos usos. No discurso oral, temos uma sequência contínua de sons, aqui e ali interrompida por pausas, mas que não correspondem aos espaços encontrados entre palavras no discurso escrito. A consciência da palavra, de fato, só é importante em algumas situações específicas. Vejamos alguns exemplos:

·         Quando o falante está em dúvida sobre o significado de um enunciado faz perguntas como: O que quer dizer a palavra tal?
·         As entradas de dicionário são feitas por palavras.
·         Na escrita, segmentamos o discurso palavra a palavra.


A partir dessas situações de uso da palavra, 
podemos fazer alguns questionamentos.
Como os falantes reconhecem que o segmento cantar é uma palavra e que cant ou ar não o são?
Por que o falante pergunta o que é cantar, em vez de simplesmente indagar o que é cant, uma vez que o segmento ar é seu velho conhecido de outros verbos? Ou então, por que os dicionários dão entradas para sequências como cantar e não a segmentos como cant ?
Como os falantes reconhecem no segmento matogrosso mais de uma palavra?
A reflexão em torno das perguntas anteriores nos ajuda a compreender como se forma o conceito de palavra no idioma.
Forma significativa
Uma das regras aplicadas ao reconhecimento de palavras é a de que o segmento deve portar significação. Ou de outra forma: tem que apresentar função semântica. Assim sendo, o segmento cantar é aceito como palavra porque, entre outras propriedades, porta um significado.
Alguns podem se opor a essa regra alegando que no enunciado João e Maria, o conectivo e não porta significado, mas é considerado palavra em português. Sem dúvida, palavras como e não portam sentido de maneira semelhante ao portado por palavras como Maria. Mas os conectivos portam sentido, sim,  porque é o conectivo que agrega a ideia de conjunção ao enunciado.
Forma livre
Os falantes não perguntam o significado de cant, provavelmente, porque nunca viram segmentos do mesmo tipo que cant ocorrerem sem a presença concomitante de um segmento que o complemente como aramosam, etc. e por isso consideram que cant sempre deve ser usado seguido por um complemento, mesmo quando a intenção é buscar o significado do item no dicionário. A impossibilidade de certos tipos de segmentos ocorrerem separados uns dos outros é decisiva na formação do conceito de palavra. No português, temos algumas combinações que só ocorrem simultaneamente e em ordem definida. Por exemplo:
Raiz + desinência verbal
Cant + ar
Muitos linguistas concordam que o falante tende a considerar como palavra agrupamentos como os do exemplo  acima, cujas partes não ocorrem separadas. Uma das regras que se aplica ao reconhecimento de palavras no discurso é a da independência em relação aos segmentos adjacentes. Em outros termos: a palavra deve ser uma forma livre. O segmento cant, no português não é livre, pois sempre aparece no discurso seguido de um complemento conhecido como desinência. Diz-se que cant é uma forma presa. Presa a outro tipo de segmento com o qual deve ocorrer simultaneamente.
A exigência de portar significado e a regra da forma livre sozinhas não delimitam a palavra. O segmento matogrosso, por exemplo, aparece em vários contextos diferentes e não está preso a nenhum outro tipo de segmento. É uma forma significativa e livre, mas não é mínima, pois pode ser separada em dois segmentos menores, mato grosso, que, por sua vez, também são formas livres e significativas. Em outras palavras: matogrosso não é um segmento mínimo.
Temos agora três regras para delimitar palavras: o segmento deve portar significação, ser uma forma livre e deve ser mínimo. Muitos linguistas consideram estas condições suficientes para conceituar palavra. Em português, a maioria das palavras pode ser reconhecida pela aplicação das três regras, mas há casos especiais, como veremos em seguida.
O caso especial dos artigos
No português, há uma classe de palavras, a dos artigos, que merece atenção especial na nossa conceituação de palavra. Os artigos ocorrem imediatamente prepostos a um substantivo e têm por função básica determiná-lo ou indeterminá-lo como na série seguinte:
O menino
A menina
Um menino
Uma menina.
Um dos modelos para a ocorrência de artigos é o seguinte:
Artigo + substantivo.
Em alguns casos, podem ocorrer adjetivos entre o artigo e o substantivo.
Artigo + adjetivos + substantivo.
Forma mínima
Observando o comportamento dos artigos no português vemos que se assemelham a um tipo especial de forma presa: a dos morfemas flexivos, pois só ocorrem seguidos de substantivo, têm função sintática dedicada e os dois tipos de artigos ocorrem em distribuição complementar. Os artigos comportam-se tal qual desinências. Considerando o comportamento sintático dos artigos somos levados a considerá-los forma presa. No entanto, no português são tratados como palavras, o que contraria a regra de que palavras são formas livres. Este exemplo mostra que no português alguns segmentos são tratados como palavras mas não se encaixam na regra da forma significativa livre mínima. Na seqüência, vamos considerar outro caso especial: o das preposições.
Preposições são palavras?
As preposições no português têm comportamentos sintáticos bastante variados, por isso vamos analisar um caso particular: o da preposição de, quando usada para estabelecer relação de posse.
Em português dizemos: Livro de Pedro.
Em latim clássico diz-se: Petrus liber.
Em inglês diz-se: Peter’s book.
Em português, o morfema de, posto entre livro e Pedro, indica relação de posse. Pedro possui o livro.
Em latim clássico, a relação de posse é estabelecida pela desinência er, que segue a raizlib.
Em inglês, a relação de posse é estabelecida adicionando o segmento s depois da palavra que identifica o possuidor.
Como se observa, temos três soluções diferentes para a mesma necessidade linguística. No latim clássico não se cogitava em definir o morfema er como palavra, pois nesse idioma este tipo de ocorrência é classificada como desinência de caso, uma parte das palavras da classe dos substantivos. Também não ocorre aos ingleses classificar o segmento  s como palavra.
Já em português, a preposição de é classificada como palavra, embora tenha um comportamento sintático similar ao dos segmentos er do latim e sdo inglês. A preposição de, quando usado para estabelecer relação de posse, tem comportamento sintático típico de desinências.
Prefixos ou formas livres?
Vamos analisar os pares a seguir:
Reitor/vice-reitor.
Moderno/pós-moderno.
Secretário/sub-secretário.
Homem/super-homem.
Nos exemplos dados, percebemos que os prefixos vicepóssub e super têm função semântica de modificar o substantivo que precedem. Ou seja, comportam-se como adjetivos e, no entanto, não são reconhecidos como palavras em português. A situação aqui é oposta à que acontece com os artigos. Em vez de serem considerados formas significativas livres mínimas e, portanto, palavras, certos prefixos derivativos do português são tratados como formas presas.
Ponderações sobre casos limítrofes
Diante dos casos especiais citados anteriormente, podemos concluir que no português os casos limítrofes são delimitados por convenções. Talvez, se outras fossem as circunstâncias, o morfema de pudesse ser considerado uma desinência de caso e, então, apareceria ligado a um dos substantivos que conecta. Sob outra perspectiva, talvez certos prefixos derivativos fossem considerados como palavras e por aí vai.
Os casos limítrofes do conceito de palavra se caracterizam pela dificuldade de enquadramento. Podemos levantar alguns argumentos a favor e contra o padrão do português que estabelece que artigos e preposições são palavras e que alguns prefixos como vicepóssub e super não são. Vamos citar alguns argumentos a favor, já que argumentos contrários foram apresentados anteriormente.
A favor dos artigos como palavra podemos dizer que o uso do artigo é opcional, que  se pode agregá-los ao substantivo ou não. Outra coisa: os artigos são flexionados em número e gênero, o que é uma característica típica de classes de palavra. Quando modificamos o substantivo com adjetivos, o artigo é afastado do substantivo e, isso não é típico de prefixos.
A favor dos prefixos como morfemas presos podemos dizer que a liberdade do usuário para compor frases ligando prefixos a substantivos é limitada. Nem toda combinação prefixo + substantivo é aceitável. Os prefixos não variam em gênero e número.
Em resumo: os casos limítrofes da delimitação de palavras são resolvidos na estrutura da língua por soluções convencionais.
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Anna Isabella 

Fonética


A fonética é o estudo dos sons da fala. 

A linguística moderna distingue fonética de fonologia. Ambas as disciplinas tratam dos sons da fala, porém de modo diverso: a fonética se ocupa dos sons da língua sob o aspecto material, físico, acústico; ao passo que a fonologia os estuda do ponto de vista prático, funcional, no contexto fônico da comunicação humana.

 Considera  a palavra sob o aspecto sonoro e trata:

  •  dos fonemas; como se produzem, classificam e agrupam;
  • da pronúncia correta das palavras, ou seja, da correta emissão e articulação dos fonemas (ortoépia ;
  • da exata acentuação tônica das palavras (prosódia);
  • da figuração gráfica dos fonemas ou a escrita correta das palavras ( ortografia).


aparelho fonador





Anna Isabella